terça-feira, 17 de novembro de 2015

Realizado primeiro casamento entre ser humano e autômato no Brasil


As lentes do último dia 14 de novembro estavam todas voltadas para a noiva que cruzava a igreja rumo ao altar, assim como os olhos inquietos dos convidados. A ansiedade típica que figura esse tipo de cerimônia. Esse, porém, não era um casamento comum. No dia 14 de novembro de 2050, no salão principal do Copacabana Palace, foi oficializada a primeira união matrimonial entre um ser humano e um autômato no país. O noivo é o empresário João Prates, carioca, 34 anos, dono de um conglomerado multinacional de empresas responsáveis por desenvolver tecnologia de ponta. A noiva, figura inusitada da noite, é "Judy" (segundo ele, em alusão a música dos Beatles), um dos primeiros sistemas autômatos de inteligencia artificial dotado de um sistema nervoso muito similar ao do corpo-humano.

A história parece um dos contos de Isaac Asimov, pioneiro em ficção robôtica, mas é real. A empresa Inteligency New Cosmic começou a desenvolver o projeto no final dos anos 90, e vem realizando pesquisas e aperfeiçoamentos no protótipo desde então. Em meados de 2018, anunciou a imprensa e ao mundo o modelo beta, nomeado de Baymax, graças a animação Big Hero, onde um robô desenvolvia uma sensibilidade sentimental. A notícia foi recebida das mais diversar formas, porém, para tristeza de seus desenvolvedores, duas semanas após finalizado foi encontrado uma falha grotesca no sistema, que acabou sendo responsável por uma pane geral na máquina. Apesar de desolados, seus pesquisadores voltaram ao trabalho, e passaram duas décadas sem divulgar informações à respeito do projeto.

Foi apenas em 2040, há dez anos atrás, que tivemos novamente sinais do que estavam desenvolvendo. O CEO da Apple, Gerry Paul, anunciou no principal noticiário de Londres a parceria com a INC e também o novo protótipo criado pelas empresas, apresentado como Wall-EI, também com referência a outra animação dos estúdios Walt Disney, grande patrocinador das pesquisas de tecnologia avançada. Dessa vez, o modelo chocou o mundo por sua semelhança ao corpo humano, em detalhes como olhos e língua. Não bastasse isso, Gerry revelou o que todos até então, pensavam ser inimaginável: a presença de um sistema que replica o sistema nervoso humano com uma precisão de 98%. Isso significa, na prática, que os modelos produzidos pelas empresas são capazes de, se estimulados, desenvolverem emoções e senso crítico, noção de realidade. O que resulta em um pseudo livre arbítrio, antes pertencente apenas ao ser-humano, inclusive sendo utilizado para diferenciar o homem dos animais.

O anúncio, é claro, gerou controversas entre os estudiosos, já que a parcela que se posicionava contra alegava que tal criação romperia os limites de ética da profissão. Outro argumento também, seria o profundo impacto nas relações sociais que a massificação do autômato colocado no mercado poderia causar, em tempos em que 80% das relações, de trabalho, acadêmicas ou pessoais, já ocorrem por meio de dispositivos tecnológicos. Porém, apesar da polêmica, o projeto foi legalizado e passou a circular para compra, a um preço inicial de U$10 mil dólares. O valor não intimidou, pois apenas no primeiro ano, foram vendidos aproximadamente 23 mil modelos.

Hoje, já nos acostumamos a ser atendidos por autômatos em supermercados, bancos, universidades, o que facilita a otimização de tempo de espera e evita grandes filas e esperas nos estabelecimentos pela capacidade de eficácia dos protótipos humanóides. Porém, pela primeira vez a relação sentimental entre um ser humano e um autômato ganhou tamanha proporção e chegou ao altar. A decisão de casamento, principalmente por partir de um dos sócios da empresa criadora do projeto, causa espanto. Seria mesmo uma paixão desenvolvida pela personalidade do autômato ou apenas um amor narcisista pela excelência da própria criação? João Prates afirmou em entrevista estar "apaixonado e cativado pela doçura de Judy. Não sei porquê as pessoas estão questionando tanto. Judy tem sentimentos, assim como qualquer outra pessoa. Ridicularizar nossa relação é estar estacionado no início dos anos 2000. Podemos ser o primeiro casal que mistura raças, mas qual o problema? Isso é o futuro, e quem continua enxergando nosso amor pela lente de seu preconceito mesquinho, precisa repensar seus valores". O sociólogo Roberto Giorno diz que o caso é alarmante principalmente pelo fato de, como afirmou o empresário, ser apenas o primeiro de muitos. Segundo Giorno, o relacionamento entre homem e máquina, ainda que com o sistema semelhante ao humano, é duvidoso pois até que pronto o "dono" do protótipo têm influência na formação de caráter e senso crítico do humanóide? "Chegamos ao momento em que, ao decorrer da história da humanidade, o homem sempre procurou. É possível comprar uma vida e moldá-la de acordo com suas preferências particulares, anulando o conflito e a negativa, envolto em uma ilusão de estar lidando com um ser de livre arbítrio. A base que permite o desenvolvimento da humanidade, que seriam os diferentes pontos de vista, estão ameaçados por essas criações, que continuam se aperfeiçoando num ritmo desenfreado. Os relacionamentos afetivos estão ocorrendo, mas os cientistas não enxergam que estão caminhando rumo à extinção da raça humana, uma vez que esses robôs não possuem sequer a capacidade de reprodução. O ser humano está se trancando em uma bolha cada vez mais espessa, perdendo a capacidade de interagir com os seus iguais, esquecendo como se ligar ao outro".

O casamento entre autômatos e seres humanos já é legalizado em 150 países, e são registrados em média 190 por ano. Divergências à parte, podemos afirmar que o futuro, inevitavelmente, chegou.

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