Renascimento cibernético: o fim da fantasia cruel
Com a finalidade de informar à sociedade atual (2011) como estará a Terra em 2050, fiz uma viagem rápida ao meio do século 21. Admito que inicialmente encontrei-me apreensivo quanto a isto. Tenho dezenove anos e a alienação da sociedade atual, banhada em tecnologia, agilidade e superficialidade deixa-me assustado com o devir. Todas as perspectivas que eu ouvia sobre o futuro da sociedade interconectada e “evoluída” (sempre me pergunto o sentido disto) levavam-me a crer que o individualismo e a hipocrisia das redes sociais se projetariam na realidade. Porém, houve luz. Não a luz artificial que constitui o mundo das imagens e informações hoje. Em 2028, o africano Frederico Ouattara iniciara uma revolução ideológica em sua aldeia, com exilados portadores de HIV. Indivíduos ao redor do mundo acordaram de um sono profundo. A fantasia da cibercultura fora posta em questão.
Escrevo bem mais tranqüilo agora que estou de volta (nesta realidade digital nada humana), pois poderei me aposentar em paz. Também posso pensar em ter filhos, sem preocupar-me com a pornografia latente atual, já que em 2050, Nietzsche não tem vez. Nada de prazeres desenfreados, hedonismo eloqüente ou violência mental contínua. Alguns iluminados (bem humanos) sentiram a podridão da sociedade tecnológica de seus ancestrais. Os discípulos de Frederico Ouattara conseguiram influenciar a humanidade para o desapego da “perfeição digital”.
Quando estive em 2050, deparei-me com seres tão lúcidos que me sentia assombrado (sou fruto do início do século 21, lembre-se). Era tudo tão diferente daqueles filmes de ficção científica da minha época. As pessoas andavam nas ruas e conversavam – observe – com interlocutores físicos. Sim, olhos nos olhos. Nada de holografia (para o espanto de contemporâneos meus, que utilizam qualquer tecnologia para expressar suas idéias obtusas, mas nunca olharam nos olhos de seu interlocutor. Assustador?).
Para rechear este relato, fui a um hospital para tirar uma dúvida: haveria médicos atendendo aos doentes fisicamente? Ao entrar no ambiente, observei o equipamento na mesa da recepcionista. Aliás, a mesa era seu equipamento. Uma tela touchscreen onde dados como horários disponíveis, médicos de plantão, data e outras coisas se encontravam. A senhora tinha um sorriso encantador. “Você não é um robô, certo?”, perguntei. Ela riu e atendeu ao meu pedido de apresentar-me as dependências do hospital. A tecnologia estava lá, por toda a parte. Mas os seres que a dominavam eram mais conscientes de si.
Um senhor de jaleco rosa me aguardava na porta da sala 777. Em 2050 os médicos poderão escolher se usarão ou não o avental. Todas as cores serão permitidas para os que optarem pela peça. Muito simpático, o jovem me apresentou a tecnologia que utiliza. “Adaptamos-nos a este novo mundo. Enxergamos seu potencial e extraímos a tempo o que é bom. Não sei como meu avô conseguia administrar seu trabalho sem todas as facilidades atuais. Hoje, a prioridade é ouvir os pacientes. O contato humano ganhou novas proporções. A máquina faz a parte técnica, desde a organização do horário a possíveis diagnósticos. Minha função é mediar este contato do paciente com a máquina.” A verdade é: desde que cheguei, tenho saudade do futuro.
Lucas da Costa Torres
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